Equilíbrio

Em busca do equilíbrio...entre culturas,
filosofias e tradições, tão vincadamente
distintas... é necessário, todo o cuidado,
atenção e sensatez, para que "o conhecimento"
não nos transporte, para tempos passados
e sobretudo que a nossa mente não nos faça
querer viver no passado, que como a palavra
indica... "passou", não volta mais, é agora
que vivemos e como tal, teremos que olhar
para o Mundo e para Vida de uma forma
lúcida e equilibrada.
Peço aos praticantes de Budo Japonês, que

por ventura, leiam estas breves notas, que
as tomem apenas como ponto de referência
e não como "doutrina" de vida...

Obrigado.

Sensei Gomes da Costa


sábado, 16 de fevereiro de 2008

Segredos do Budo


Segredos do Budo

Um dia, um samurai, grande Mestre de sabre
quis obter o verdadeiro espírito da esgrima. Era durante
a época Tokugawa. À meia noite, foi a um santuário de
Kamakura, subiu os numerosos degraus que levam até
lá e rendeu homenagem ao Deus local, Hachinam.
Hachinam, no Japão, é um grande Bodhisattva que se
tornou o protector do Budo. O Samurai rendeu-lhe
Homenagem. Ao descer os degraus, á meia noite, ele
sentiu, debaixo de uma grande árvore, a presença de um
monstro em frente dele. Por intuição, ele desembainhou
o seu sabre e num instante matou o monstro. O sangue
jorrou e derramou-se pelo chão. Ele matou-o
inconscientemente. O Bodhisattva Hachinam não lhe
deu o segredo do Budo. Mas graças a esta experiência,
no caminho de regresso, ele compreendeu-o. A intuição
e a acção devem surgir simultâneamente. Não pode
haver pensamento na prática do Budo. Não há um só
segundo para pensar. Quando agimos, a intensão e a
acção devem ser simultâneos. Se dissermos : " O
monstro está ali, como matá-lo? ", se hesitamos, só o
cérebro frontal entra em acção. Ora, o cérebro
Thalamus (cérebro profundo) e acção devem coincidir,
no mesmo instante, idênticos. Assim como o reflexo da
Lua sobre um curso de àgua, não fica imóvel, se bem
que a Lua não se mexa. É a consciência Hishiryo.
Quando dizemos durante o zazen " não mexer, não
mexer ", isso significa de facto não ficar sobre o
mesmo pensamento, deixar passar os pensamentos.
Demorar em perfeita estabilidade significa na realidade
não demorar. Não mexer, significa na realidade mexer,
não dormir. É como uma broca que roda : podemos
considerá-la imóvel, mas ela está em plena acção. Só
podemos ver o seu movimento quando ela inicia o
movimento ou quando ela se aproxima do fim do
movimento. Assim a tranquilidade no movimento, será
ela o segredo do Iaido ? (Via do sabre). É tambem o
segredo do Budo e do Zen, que têem o mesmo gosto.
Este espírito é o mesmo em todas as Artes de Budo,
quaisquer que sejam as suas diferenças tácticas e
técnicas. Assim o Judo ( JU = suavidade ; DO = Via )
é a Via da suplesse (yawara). O Mestre Kano foi o
fundador, depois da revolução Meiji. Os Samurai,
esses guerreiros ferrenhos, aprendiam o yawara, a
técnica da suavidade. No Japão, os samurai deviam
aprender as artes de guerra, assim como aquelas da
vida civil. Eles tinham que estudar o Budismo,
Lao Tseu, Confucius e ao mesmo tempo aprendiam
o Judo, equitação, tiro ao arco, etc...Kodo Sawaki,
nas suas conferências dizia que o seu segredo era
Kyu Shin Ryu, " a Arte de dirigir o Espírito ".

Dirigir o Espírito

Como dirigir o nosso espírito? Isso vem do Zen e não
da técnica das Artes de Budo. Estas em conjunto com
o Zen formam o Budo Japonês. Como educar o nosso
espírito e aprender a dirigi-lo?
Kodo Sawaki falou do Kyu Shin Ryu, o segredo do
yawara, transmitido por esta escola, num texto
tradicional do qual um capítulo trata do espírito
tranquilo.Eis uma passagem : " A verdadeira técnica
do corpo, o wasa desta escola de yawara, deve ser a
substância do espírito ". A substância é o espírito.
Não se deve olhar para o corpo do adversário, mas é
necessário dirigir o nosso próprio espírito. Não há
inimigo. O espírito é sem forma, mas pode por vezes
ter uma : isso é idêntico ao zazen ! Por vezes
podemos "agarrar" o nosso espírito, mas por vezes é
impossível. Quando a actividade do espirito "enche" o
cosmos, que é o espaço compreendido entre o céu e a
terra, e quando sabemos aproveitar a oportunidade que
se apresenta, então podemos dispor de todos os
acontecimentos em pleno "decorrer ", evitar todos os
acidentes e empreender dez mil coisas "numa só "...
Sem comentário. É um texto díficil de compreender.
Mas aqueles que practicaram profundamente o Judo
compreendem este espírito. No Genjo Koan outro
texto tradicional de que se servia Kodo Sawaki, diz-se :
" Quando um homem se afasta da margem num barco,
ele imagina que a margem está em movimento. Mas
se ele baixar o seu olhar, para junto da sua embarcação,
aperceber-se-á de que é ele que está em movimento ".
Com efeito, se olharmos com atenção, intìmamente,
para o interior do nosso barco, compreendemos que é
o barco que se movimenta e assim ultrapassamos a
ilusão dos sentidos. Então, quando as pessoas
consideram todos os fenómenos de todas as
existências através das suas ilusões e dos seus erros,
podem enganar-se e pensar que a sua natureza original
está dependente e móvel. Mas se eles se tornarem
íntimos com o seu verdadeiro espírito, e se regressarem
à sua natureza original, então comprenderão que todos
os fenómenos, todas as existências se encontram dentro
deles próprios, e que isto é igualmente verdade para
todos os seres. A natureza original da existência não
pode ser realmente apreendida pelos nossos sentidos
ou pelas nossas impressões. Quando a apreendemos
pelos nossos sentidos, a matéria objectiva não é real
ela não é verdadeira substância, ela é apenas
imaginação. Quando pensamos compreender que a
substância do nosso espírito, é tal , é um erro. Cada
um é diferente. As formas e as cores são as mesmas,
mas cada um as vê diferentemente através das suas
ilusões : ilusão fisiológica e psicológica. Todos esses
problemas da nossa vida quotidiana encontrarão uma
solução com o tempo, ao fim de vinte ou trinta anos ;
e no momento de entrar no nosso caixão, eles estarão
de qualquer modo resolvidos. O tempo é a melhor
solução para os problemas de dinheiro e de amor.
Quando entrares no vosso caixão, mais ninguém vos
amará, excepto talvez de um amor espiritual.
Os problemas da vida são diferentes para cada um,
e cada um tem necessidade de um meio diferente,
para resolver os seus problemas. Temos pois
necessidade de criar o nosso próprio método.
Se imitarmos... enganamo-nos.
É necessário criar por " si próprio ".
.

...

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Zen e Budo

O Zen e o Budo


A sala de exercício onde se aprende a Arte do sabre,
tem desde longa data a designação de :" lugar do
despertar "(Dojo). A Arte do Sabre (Iai Do),
não consiste absolutamente nada em perseguir um
resultado exterior com um Sabre , mas sòmente,
a realizar qualquer coisa dentro de si próprio.
A descoberta, no mais profundo do Ser, da Essência
sem fundo e sem forma, é resultante de uma meditação
dirigida com método, segundo as vias próprias do Zen.
Será este o ponto em que se começa a sentir a
influência do Zen sobre a Arte do Sabre ? .

A Força e a Sabedoria

Como ser o mais forte? O mais potente? Como aclarar
o nosso espírito, guiar a nossa conduta e tornarmo-nos
sábios? Desde a Aurora da História, o ser humano
manifestou o desejo de se ultrapassar em força e em
sabedoria, aspirando a atingir a maior força e a mais
elevada sabedoria. Mas, de que forma ou meio,
poderemos tornarmo-nos fortes e sábios ao mesmo
tempo? No Japão, as pessoas tentam atingir este
objectivo através da prática do Budo, e pelo Zen.
Este ensinamente tradicional tem-se mantido, ainda
que o Budo Japonês actualmente tenda a ser dualista :
aprender a tornarmo-nos fortes, em vez de nos
tornarmos sábios. Forte e Sábio : o Zen ensina-nos
estas duas vias... numa só. Como sabeis, as
possibilidades do nosso corpo e do nosso espírito são
limitadas, é esse o ponto da nossa condição. A nossa
sabedoria também está limitada, pois somos apenas
homens. O homem não pode pretender ter a força
fisica do leão ; tão pouco pode pretender igualar a
sabedoria de Deus. E porque não? Não haverá uma
maneira ou Via que permita ao homem ultrapassar os
limites da sua humanidade? E passar para além dessa
fronteira? É para dar resposta a esta esperança
fundamental que o Budo produziu o princípio do "wasa".
Podemos definir o "wasa" como uma Arte, como
uma espécie de super-técnica transmitida de Mestre a
Discípulo, e que permitirá impor-se aos outros homens
e elevar-se acima deles. O wasa do Budo Japonês
remonta à época histórica dos samurai. É um poder
para além da força própria do indivíduo. O Zen, criou
uma super-técnica, que não sòmente dá a força física
e mental, mas ainda abre a Via da Sabedoria, a Via de
uma sabedoria similar aquela de Deus ou Buda. É o
"zazen" , um treino que consiste em sentar-se numa
posição tradicional, um treino a andar, a sentir-se de
pé, a respirar correctamente, uma atitude mental, um
estado de consciência " hishiryu ", uma educação
profunda e original.

A Nobre Luta do Guerreiro

O Budo é a Via do guerreiro; agrupa o conjunto das
Artes de Budo Japonês. O Budo aprofundou de
maneira directa as relações existentes entre a éctica,
a religião e a filosofia. A sua relação com o desporto
é muito recente. Os textos antigos que lhe são
consagrados dizem respeito essencialmente à cultura
mental e à reflexão sobre a natureza do "Eu " : Quem
sou Eu ? Em Japonês, Do significa a Via. Como
praticar essa Via? Qual é o método para a obter? Não
é sòmente a aprendizagem de uma técnica, um wasa
e ainda menos uma competição desportiva. O Budo
inclui Artes como o Kendo, o Judo, o Aikido, o Iaido,
etc . No entanto,o kanji "BU ", significa igualmente
parar, cessar a luta. Assim no Budo não se trata
sòmente de enfrentar, mas também de encontrar a
paz e a maestria de si próprio (auto-domínio).
Porque o Do é a Via, o método, o ensinamento para
compreender perfeitamente a natureza do seu
próprio espírito e do seu " EU ". É a Via de Buda,
o Butsu Do, que permite descobrir realmente a sua
própria natureza original, de se despertar do sono do
Ego adormecido (o nosso EU intrincado), e de atingir
a mais alta e a mais elevada das personalidades.
Na Ásia esta Via tornou-se a moral mais elevada e a
essência de todas as religiões e de todas as filosofias.
"O Ying e Yang " do Yi-King ou a "Existência é Nada "
de Lao Tseu, encontram aí as suas raízes. Que quer
isto dizer? Que se pode pôr de lado o seu corpo e o
seu espírito pessoal : atingir o espírito absoluto, o
Não-Ego. Harmonizar, fundir o Céu e a Terra: o
espírito interior deixa passar os pensamentos e as
emoções. É- se totalmente livre do meio ambiente.
O egoismo é abandonado. Tal é a fonte das religiões
e filosofias da Ásia. O Espírito e o Corpo, o interior e
o exterior, a substância e os fenómenos: estes pares
não são nem dualistas, nem opostos, mas formam
uma unidade sem separação. Uma mudança, seja ela
qual for, influencia sempre todas as acções, todas as
relações entre todasas existências. A satisfação ou
insatisfação de uma pessoa, influenciam todas as
outras pessoas. As nossas acções pessoais e as dos
outros estão em relação de "interdependência ".
A vossa felicidade deve ser a minha felicidade,e se
chorais, chorarei convosco.Quando estais triste,
preciso ficar triste, e quando estais feliz devo tambem
sê-lo . Tudo está ligado, tudo se osmose no Universo.
Não se pode separar a Parte do Todo : a
Interdependência rege a ordem Cósmica.Em cerca de
cinco mil anos de história oriental, a maior parte dos
sábios e filósofos concentraram-se sobre este espírito,
sobre esta Via, e transmitiram-na. O " Shin Jin Mei "
livro muito antigo, de origem chinesa, diz : " Shi Do
Bu Nan " ... a Via mais elevada não é difícil, mas não
deve haver escolha. Não deve haver nem gosto nem
desgosto. O San Do Kai diz também : " Há separação
como entre uma Montanha e um Rio.... se existirem
desilusões.... ". O Zen significa o esforço do homem
praticando a meditação, o zazen. O esforço para
atingir o domínio dos pensamentos sem
descriminação, a consciência para lá de todas as
categorias, englobando todas as expressões da
linguagem. Esta dimensão,pode ser atingida pela
prática do Zazen e do Budo.

Os Sete Princípios

A fusão do Budismo e do Shintoismo permitiu a
criação do Bushido, ou Via do Samurai. Pode-se
resumir essa Via por sete pontos essenciais :

1 = Gi : a decisão justa em qualquer circunstância ;
atitude justa, a verdade.
2 = Yu : a bravura próxima do heroísmo.
3 = Jin : o amor universal, a boa vontade em relação
á humanidade.
4 = Rei : o comportamento justo que é um ponto
fundamental.
5 = Makoto : a sinceridade total.
6 = Meikyo : a honra e a glória.
7 = Chugi : a devoção e a lealdade.

São estes os sete princípios do espírito do Bushido.
BU = artes da guerra;SHI = o guerreiro;DO = a Via.
A Via do Samurai é imperativa e absoluta. A prática
vem do corpo através do inconsciente e isso é
fundamental. Daí a importância dada à educação do
comportamento justo. As influências entre o Bushido
e o Budismo foram recíprocas. Mas o Budismo
marcou o Bushido em cinco aspectos :

1 = O apaziguar dos sentimentos.
2 = A obediência tranquila face ao inevitável.
3 = A maestria de si próprio na presença de qualquer
acontecimento.
4 = Uma intimidade maior com a ideia da morte do que
com a ideia da vida.
5 = A pura pobreza.

Antes da segunda guerra Mundial, o Mestre de Zen
Kodo Sawaki dava conferências aos maiores
Mestres de Artes de Budo, às mais altas autoridades
do Budo. No Ocidente confundimos Artes de Budo
com Artes de Guerra ; mas em japonês é a Via. No
Ocidente estas Artes Marciais tão em voga,
tornaram-se um desporto, uma técnica sem o espírito
da Via. Nas suas conferências, Kodo Sawaki dizia
que o Zen e as Artes de Budo têem o mesmo gosto e
são uma unidade. No Zen como nas Artes de Budo, o
treino conta muito. Quanto tempo devemos treinar?
Muitos perguntam: " Durante quantos anos devo
treinar Zazen?” a resposta é: " Até à morte ".
A resposta não agrada na maior parte dos casos.
Os Ocidentais querem aprender ràpidamente, alguns
mesmo, num só dia.... " Vim uma vez e compreendi ".
Mas o Dojo não é como a Universidade. Também no
Budo é necessário continuar até à morte.

As Três Etapas

Primeira etapa : um período de prática em
que a vontade e a consciência são necessárias no
início. No Budo, como no Zen, este período dura mais
ou menos de três a cinco anos e antigamente mais de
dez anos. Durante esses dez anos, era necessário
continuar a prática do Zazen com a nossa vontade.
Mas acontecia que entre os três e os cinco anos de
verdadeira prática o Mestre concedia o Shiho
(transmissão).Nessa época era necessário viver num
templo e seguir alguns Seshin (períodos de vários
dias ou até semanas). Hoje em dia, no Japão actual,
o Shiho é apenas transmitido de pai para filho e é
apenas uma espécie de formalidade. Por isso o
verdadeiro Zazen diminuiu e já quase não existem
verdadeiros Mestres no Japão. Antigamente era
necessário passar pelo menos três anos nos Templos
de Eiheiji e Sojiji, para que se pudesse receber a
ordenação ( sacerdócio ). Hoje em dia basta um
ano ou apenas três meses e até apenas um Seshin
para ser ordenado Monge. Quem é Mestre na nossa
época ? Esta questão é muito importante. Quem é o
vosso Mestre? A maior parte dos monges japoneses
responderão a esta questão:" É o meu pai ". De facto,
apenas os discípulos de Mestres como Kodo Sawaki
são verdadeiros Mestres ; pois seguem os
ensinamentos dos seus Mestres durante dezenas e
dezenas de anos. O Dojo do Mestre Kodo Sawaki não
era como aquele de Eiheiji ; era sem formalismo.
Kodo Sawaki dizia sempre : " o meu Dojo é um Dojo
ambulante ". Ele ia de templo em templo, de escola
a universidade, á fábrica e até às prisões. O seu
ensino colava-se à vida. No Zen como no Budo,
o primeiro período, Shojin, é portanto o período de
treino pela vontade e o esforço consciente.
A segunda etapa é aquela do tempo de concentração
sem consciência depois do Shiho.O discípulo está em
paz. Ele pode tornar-se realmente o assistente do
Mestre. Posteriormente ele poderá tornar-se Mestre e
por sua vez ensinar a outros.
Durante o terceiro período, o espírito atinge a
verdadeira liberdade. " Ao espírito livre, universo livre ".
Após a morte do Mestre, tornamo-nos Mestres
completos. Mas evidentemente, não se deve esperar
nem desejar a morte do Mestre, pensando na nossa
libertação. Estes três períodos são idênticos tanto no
Zen como no Budo.
.

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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

O Zen


ZEN

A palavra Zen deriva do " sanscrito" = Dyana =, em chinês
= Chan-na =, que significa meditação. Uma lenda diz, que
Buda tenha transmitido as regras a Kasyapa, o seu
discípulo favorito, enseguida, vinte sete Patriarcas
continuaram o ensino até "Bodhidharma", que veio da
India para a China (600) e foi o primeiro Patriarca Chan
(O Zen em Chinês chamava-se Chan). Històricamente,
o Zen foi introduzido no Japão no século XIII , em reacção
contra diversas espécies de Budismo implantadas no
Japão desde o século VI e que se tinham
progressivamente degradado. O Zen é pois uma reacção
integradora, contra as tentações de facilidade que
poderiam conter a doctrina Amidista (Buda Amida).
Na prática os efeitos da doctrina Zen, tiveram uma
influência considerável no Japão, pois a sua aparição
coincidiu com a instauração do feudalismo Japonês,
que data do fim do seculo XII
(é então que a classe dos guerreiros de profissão ,
é levada ao primeiro plano).

== O que é o Zen ==

Do Zen pode-se dizer, tudo o que não é : nem um sistema
de ideias, nem metafísica, nem religião. Não se rodeia
nem de dogmas, nem de crenças, nem de símbolos, nem
de templos, nem de votos monásticos. Para o Zen, não há
nada a procurar, nem nenhum mérito a adquirir. Não é uma
Via, nem necessita de nenhuma Fé, não espera nenhum
Salvador, nem promete Paraíso algum. Não propõe
nenhuma escolha nem nenhuma aquisição. Para o Zen
nada existe, não é questão de definir os objectos, nem
espírito, nem Buda, nenhum ser, nem coisa alguma tem
realidade fundamental. É por isso que um preceito bem
conhecido, de Zen diz : " Mata o Buda ".
O Zen é pois " uma pedra atirada no lago das aparências
para fazer estilhaçar o Vazio de todas as coisas". Se bem
que a essência do real, seja o objectivo final que o Zen
procura, dado que este real é " o Sem Nome ", quer dizer
da mesma Essência que o Absoluto inatingível e
incomunicável, é esse Real que o Zen se propõe
apreender, fora de todo o processo de razão analítica.
É por isso que o Zen não explica nada. Definir uma
Doctrina, seria encontrar-se prisioneiro dessa mesma
doctrina, enquanto que o que " É " aparece como um
relâmpago instantâneo e desaparece com igual rapidez.
O Homem atento apercebe nesse momento uma
compreensão ou iluminação passageira que se chama
" Satori ". A ideia de Vazio pode ilustrar-se assim : " Se
concebermos que a vida do homem se parece a uma
corda com um nó, o Zen propõe ao homem, não de juntar
novos nós, quer dizer de aumentar os seus laços de
conhecimento ou de poderes diversos, mas pelo contrário
desfazer todos os nós da corda , e de lhe restituir a forma
direita e lisa, tal como era na sua origem ". É por isso
que o " Vazio " Zen é o contrário de " Não Existente".
O sentido de Budismo que o Zen dá ao homem, significa
que tudo já existe em Nós e que é apenas suficiente afastar
todas as causas que obscuressem o verdadeiro
conhecimento, para reatar o contacto com esse
conhecimento. Convém notar que um Físico, é capaz
melhor que ninguém, de compreender este raciocínio.
Em última análize, ele sabe que, de todas as maneiras
nenhum homem poderá alguma vez reatar, apartir de
uma molécula original a Ordem da Criação. Muito ao
contrário, quanto mais o infinitamente pequeno, é
explorado, mais campos de energia inumeráveis e sempre
diferentes se abrem na sua frente. " Se bem que o
Universo, à imagem do Electrão, que o continua, não é
senão um campo de probabilidades" ( Louis de Broglie ).
Na ordem da vida corrente, a dificuldade é de aprender, a
não emoldurar ( restringir ) o que É : então o movimento
salta, a palavra pronuncia-se, a substância do Real
aparece. Na vida prática,os adeptos do Zen propõem
um método de meditação aparentemente absurda a que
eles chamam de " Koan ". O koan é uma formula que
fere as ideias recebidas e toda a nossa cultura profunda,
precisamente porque ela, tende a rejeitar todo o
julgamento intelectual e razoável.Por exemplo um monge
lança a seguinte pergunta : " Como pode a minha mão ,
ser como a mão do Buda ? " Resposta : " Tocando
harpa ao luar ". Ou ainda : " Como escapar á palavra
e ao silêncio, se eles pertencem os dois ao mundo do
relativo e do Absoluto ? " Resposta : " Penso nas
perdizes que brincam entre as flores perfumadas".
Em realidade, os monges célebres criaram,
por estas respostas "desconcertantes" toda uma
literatura de " koan " que são sempre necessários
para meditar nos mosteiros.

== O poema de Zen mais antigo começa assim :

"A Via perfeita, é sem dificuldade, só que ela evita escolhas,
só quando se cessa de amar e de odiar, é que tudo pode
ser claramente compreendido. Uma ínfima diferença, é
suficiente para separar o Céu e a Terra. Se quereis chegar
a uma verdade clara, não vos preocupeis com o justo ou o
não-justo ".
" Os conflitos entre ... o justo e
não-justo ...são a doença do espírito "
.
.

......

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Iaido


Iai-Do

O espírito das Artes Marciais não é diferente,
do dos Budo tradicionais. O Budo é uma Via,
é à partida uma disciplina, uma ciência, uma
técnica cujos princípios essênciais, se
encontram através de todas as outras
disciplinas. Os tempos mudaram mas os
princípios fundamentais, a ciência profunda
dos movimentos, dos gestos, do sopro, da
energia, da tática... são imutáveis.
Esses princípios, são a raiz ( nalguns casos
bastante secreta ) da árvore das Artes Marciais
que chegaram até nós. A visão unitária dos
princípios continua a ser uma realidade viva.
O nosso espírito Ocidental tem uma grande
dificuldade em conceber como a ideia do Sabre,
que simboliza precisamente uma arma de morte,
pode estar ligada a uma ideia de sabedoria e
mais ainda, à noção de Via. Portanto, certamente
mais que as sabedorias tradicionais, às quais
estamos habituados, mais do que a ideia de
contemplação, de volta a si mesmo, de renunciar
ao mundo, de renunciar às coisas da vida e mais
do que a ideia séptica, que ela presupõe, a Via do
Sabre, na sua definição final, inclui nela própria
todos os passos essenciais da sabedoria, e de
uma certa maneira, leva as suas expressões ao
Absoluto. Evidentemente, já não temos as
condições necessárias, e é-nos mesmo
extremamente díficil de conceber o que seria a
definição e a aplicação da Via do Sabre no Japão.
Portanto os textos que nos chegaram e a tradição
que se manteve em certas velhas escolas ( Ryu )
dão a ideia, mais ou menos aproximada ou uma
representação do que poderia significar esta Via.
Só a prática e o empenho total de si, dão o seu
sentido verdadeiro à Via.

= KI = Energia original

O espírito e o corpo são duas entidades
aparentemente distintas, todavia o espírito
comanda o corpo ( o que é uma das regras do
Budo ). A realização interior, a eficácia real, o
cumprimento de toda a acção comandam a união
do corpo e do espírito. A energia que realiza essa
união, chama-se KI, esta energia obedece ao espírito
que a pode orientar, controlá-la num ponto, fazê-la
fluir...etc. O Ki é o segredo de todos os Budo, não há
possibilidade alguma de progredir em qualquer Arte
Marcial sem o domínio do Ki, que é definido como
energia vital original, seja como "sopro", seja como
espírito. É preciso compreender por detrás destas
palavras, uma realidade única, pois o Ki, energia
fundamental do Universo ( o que liga, o que une as
coisas ), é também o verdadeiro corpo das coisas no
seu sentido subtil. Desde logo o Ki pode unir-se ao
"sopro", ao espírito e ser por sua vez a emanação do
"sopro" ou do espírito.O Ki é a vida, enquanto existir
Ki a vida continua, quando a energia vital desaparece
a vida apaga-se. O domínio do Ki significa assim o
domínio da vida, da saúde, da harmonia e portanto da
energia em geral. A morte é a cessação do Ki, é
portanto a separação irremediável do corpo e do
espírito. Inversamente, quanto mais mantivermos o Ki
mais prolongaremos a vida. Se o Ki dá, pelo menos
essa imortalidade, é porque, é a energia ou potência
original que se manifesta desde a criação do Universo,
e aí está porquê, o homem sendo a emanação da
natureza Universal, todo o conhecimento vem e volta à
natureza, que é para todos os homens o livro comum.

= HARA=

Como fixar o Ki ? Como aprender a sentí-lo, como
exercitá-lo e como projetá-lo ? Todos os Budo
concordam sobre um ponto : o domínio da energia
passa pelo Hara. O domínio do Hara, traduz-se
muitas vezes, erradamente, por domínio do ventre.
O Hara pode ser imaginado como um círculo, que
seria o centro de uma energia difusa. É evidente que o
centro de gravidade é sempre baixo, se relaxarmos o
corpo, a força desce naturalmente para as partes baixas
do corpo, e este local é o Hara, que se situa dois
centímetros abaixo do umbigo. Todavia se o Hara
representa um círculo, o seu ponto central chama-se
Seika-no-Itten, o que quer dizer "O Ponto Único", e
que é o verdadeiro ponto de equilíbrio do Ki, ou seja de
toda a energia vital do corpo. Este ponto, é o local
geométrico, espiritual e psíquico, onde as leis do espírito
e do corpo se conjugam. Só o seu conhecimento permite
a coordenação mental e física, sem a qual, toda a potência
é apenas momentânea e ilusória.

== Regras Fundamentais ==

O " Nuki " deve revestir-se de uma forma sábia e
profunda, grande e suprema. A expressão natural de si
mesmo, pois o" Nuki " deve ser a unidade dos três
princípios : << O verdadeiro, o bem e o belo >> .
Princípio fundamental : " Um desembainhar ... uma vida ...".
Entregai toda a vossa vida, a um desembainhar de espada,
" Nuki "aprende-se sem Verbo. Se querem viver no acordo
do céu e da terra, acordo que é a Via do Iai-Do, não
procurem atingir o objectivo, não procurem o prazer do
objectivo, tomem o caminho da união entre a alma e o
corpo. A identificação da consciência do " Nuki " e o acto
de " Nuki ", eis a verdadeira forma do " Nuki ".Todo o
treino que não tenha o Espírito da Via, pode conter
violência, o " Nuki " sem a Via, torna-se medíocre e
degenerado, pois o verdadeiro "Eu" ou o "Eu" autêntico,
é a divindade , o Budismo ou o Ser profundo, é
sobretudo a alma imortal que reside fìsicamente no Ventre
( tanden ). Esta alma pura que existe no Tanden, trabalha
eficazmente, e é exactamente o que se deve chamar o
verdadeiro "Eu". Os discípulos de Iai-Do que queiram viver
nesta Via suprema e nobre, não devem esquecer nunca ,
nem por um instante, que é o grande espírito de
desinteressamento, e abandono de si, que pode permitir
entrar no mundo Sagrado do Absoluto do "Não-Ego" e
de "Aí" realizar o Belo Supremo. É pois necessário
distinguir a Via do Iai-Do e a técnica do
" Nuki " = Iai-jutsu. O Iai-Do é uma prova do "Eu",
criada para a relação que existe entre o adversário
e o "Eu", enquanto o Iai-jutsu é o manejo da arma visando
matar o inimigo. Apanhar o momento de vulnerabilidade é
o ponto dos Grandes Mestres. É por isso que se diz, que o
adversário deve continuar transparente e que ao mesmo
tempo é necessário "ver e não ver o adversário, olhá-lo
como se olha para a Montanha ao longe"..." o adversário
é o espelho de si mesmo ", é pois uma luta contra si
mesmo que as Artes de Budo, convidam na sua finalidade.
É pois necessário a meditação e o silêncio para obter a
calma das "àguas límpidas", um estado de pensamento
sem tensão, uma calma interior total, um desapêgo
Absoluto. " Espelho puro, Àgua tranquila" ou
" O reflexo da Lua sobre a àgua", são exemplos do estado
daquele, que sendo Mestre adquiriu uma harmonia interior,
semelhante à união subtil dos reflexos da Lua sobre a
àgua. O Kiai em combate define-se como uma força de
união entre o espírito e o corpo ( ou o sabre ), pode
por isso dizer-se , que a totalidade do corpo físico...
está investido na Arte, assim como a totalidade das
funções espìrituais. Enfim o Sabre representa o vector
único dessas forças, unificando-as ao concentrá-las num
só ponto. Este "ponto" é ele mesmo o objectivo final que
determina a Via de uma progressão, no término da qual,
o Sabre e o Combate são ùnicamente os instrumentos de
uma realização diferente e inexprímivel da Vida ela própria.
.
....

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Budo


Estas notas rudimentares, foram acumuladas ao longo da
minha estadia no Japão de 70/73, com a intensão de
servirem um dia, como parte do material a ser publicado por
volta do ano..........? Elas refletem um apanhado de conversações
mantidas, num ambiente bastante sério e sinceramente
interessado no estudo profundo do Budo, com alguns Mestres
das diversas Artes mas sobretudo com Don Draeger, talvez o
mais sério Budoka Ocidental, que durante 25 anos fixou residência
em Singapura, onde fundou a revista "Martial Arts International",da
qual eu próprio fui correspondente. O mundo de sensações que
estas notas apenas afloram, foi-me transmitido pelo convívio, com
o Mtr. Hayabuchi 9º Dan de Iai-Do, Monumento Nacional do Japão pelo
seu domínio nas Artes do Kembu, Sho Do e Kabuki, faleceu em 1998...
e cuja memória e espírito me acompanharão para o resto dos
meus dias." Estas notas são como a rota traçada num pequeno mapa
dos Oceanos, têm pois uma dimensão diminuta quando comparadas
com a dimensão real do Mundo do Budo..."

" Há duas montanhas....onde há luz e sabedoria,
a montanha da Natureza....e a montanha dos Deuses,
entre elas estende-se... o sombrio vale dos homens.
Quando uma vez, um deles... olha para o cimo,
sente um presságio,... uma nostalgia inextinguível,
ele, que sabe... que não sabe,
por aqueles, que não sabem... que nada sabem...
e por aqueles, que sabem... que tudo sabem...."

Budo

Os Mestres ( autênticos ) ensinaram sempre que o homem
não vive, nem no passado, nem no futuro, vive sim neste
momento...( aqui e agora )
BUDO = Via do guerreiro (engloba as diversas A.M.), associa

ìntimamente o espírito e o corpo numa transformação ou
mutação total.
Não se pode praticar o Budo por diversão ou passatempo.
Não podemos aproximar o BUDO de animo leve, é uma
decisão séria. Uma vez que os nossos pés tocam a
superfície do Dojo estamos cometidos para sempre.
Os Ocidentais têem necessidade de compreender e de

analizar com um espírito crítico e tirar conclusões.
Qualidades que se tornam ràpidamente impedimentos
enormes, se mantivermos esta atitude.
Uma pessoa agitada e muito ocupada não pode entender

ou escutar o "silêncio". Não aprendemos se imaginamos
que uma qualquer disciplina é,"em si", a finalidade de
todas as coisas.
Se opusermos o corpo ao espírito, a técnica ao espiritual, se
acreditarmos que poderemos guardar para nós , tudo o que nos foi
dado: "uma ideia recebida, será um muro diante do horizonte".Todo
o ensinamento presupõe etapas (níveis), mas não é para"chegar
"a qualquer" fim". O objectivo é atingir esse momento onde a mudança
se opéra, onde o movimento gera movimento, onde o homem se torna
o seu próprio Mestre. Por isso o ensino tradicional põe a importância
na "prática", evitando as explicações verbais, por razões que são

óbvias... (palavras são obstáculos ).
Que é que significa a procura a todo o custo da eficácia? Tais debates
que opõem o branco ao preto, esquecem que o corpo é um debate, que
não poderemos falar de eficácia real sem um domínio total do corpo e
do espírito. Desde que realizemos este domínio, por pouco que seja,
o homem apercebe-se por si próprio, qual é o sentido do "caminho" e
da "procura". Toda e qualquer discussão torna-se superfula. Os mitos
modernos dos Super-Homens, dos Invencíveis, são um convite
perigoso a esticar o arco da energia até ao ponto em que a corda parte,
momento em que o homem "implode" totalmente. Mesmo se tais
Homens se tornam, ídolos comerciais, que são impostos à admiração
do público, eles continuarão a ser desarticulados, animados de
energias e poderes factícidas, que por não terem sido realmente
assimilados se voltarão fatalmente contra si próprios...
A "energia" é... o que nós fizermos dela. Ela pode tornar-se fonte de
vida ou fonte de morte, de criação ou de destruição . Não existe

uma sabedoria particular nos Budo , mas os Budo não escapam à
sabedoria universal, cuja finalidade não é nem a retração nem a
dissecação do "Ser", mas sim a plenitude e a harmonia. "Ser",
é neste sentido conhecer e conhecer é juntar energia à energia,
vida à vida, amor ao amor.Esta é a "Via Universal". Todos os que
verdadeiramente buscam "o caminho" dão-se conta de que o
verdadeiro ensinamento é : a prática "dura" ( aquela que é a
aprendizagem das técnicas essenciais ), deve aliar-se com a
prática "suave", como o movimento deve ser a expressão do
"folego". Desde que a prática seja unilateral, haverá blocagem
e mais tarde ou mais cedo... o "acidente de percurso"

(desvio da direcção mais certa....)
Os Budo exprimem a vida, é por isso que muitos Mestres
adaptam os ensinamentos recebidos e criam novas sinteses
pessoais. Uma tal sintese conduz frequentemente a "apurar",
"clarificar" e "simplificar" o "núcleo" fundamental e não juntar
novas técnicas a outras técnicas. Se muitos Mestres praticam
disciplinas diferentes ( sabre, judo, karate, bo, tiro ao arco,etc..),
é porque eles estarão fascinados em encontrar nos diferentes
Budo , os mesmos princípios fundamentais. A grande árvore
da tradição possue um tronco e raízes imutáveis, mas os ramos
exprimem ao mesmo tempo a Vida e o "Tornar".
A emanação de todas as realidades ( o famoso aqui e agora )
integra-se com respeito e veneração profunda nas leis Universais.
Quando o sentimento do sagrado nasce, não é nada de raro ou de
místico, é um facto quotidiano, um olhar que engloba o particular
dentro de um "todo". Um tal sentimento nasce da participação do
"ser" todo inteiro, nesta realidade Universal com a qual ele se
sente em harmonia profunda. Esta hamonia não é outra coisa que
a vida ela mesma. A vida integra-se no "tornar", que exprime a lei
da alternância e também a vibração do contínuo e do descontínuo.
O raciocínio dialético, o mecânico, o quantitativo... tudo o que é
emanação da cultura Ocidental moderna, rompe o " tornar " natural
das coisas, quebra a ordem expontânea.
Sistemas conceituais e abstratos substituem-se a esta ordem.
A regra, o " jogo " implícito da vida não têm mais lugar, a suave
hierarquia está ausente ( e por este facto ) produz-se uma
contra-natureza de onde só resultam conflitos. É significativo ver
quanto a ideia de " jogo", quer dizer, aprendizagem das coisas
por elas próprias, que existe nos Budo. O costume ( que todos os
Grandes Mestres de Musashi a Ueshiba praticaram ) de andar de
escola em escola, e defrontar adversários, para medir a sua
eficiência, este costume só tem um tempo. O que é que advem
quando o Mestre constata que é o mais forte? Ele abandona a luta,
as competições e procura saber mais. A meditação ( abstinência )
e o retiro, substituem, muitas vezes durante vários anos, os
combates. E por vezes produz-se a " iluminação " : que quer dizer
a percepção, no cume do esforço voluntário de uma não-vontade
ainda maior e mais eficaz, mas que, desta vez, não procura a cortar
o inimigo, pois já não há adversário," O outro tornou-se o Si-Próprio ".
A realidade não é senão um jogo de espelhos refletindo exactamente
o que aí mostramos.A " Iluminação dos Mestres " é a expressão,
desta vez, de uma visão de totalidade. Experiência fundamental,
apagando todas as oposições, a interpenetração de todas as coisas,
o movimento indescrítivel do "tornar", a instituição de um
espaço-tempo intemporal, o deslizar imperceptível de energias
que são ao mesmo tempo: luz, vibrações e sons, tudo isso
traduzindo uma força de vida tão potente e súbita, que só a palavra
Amor no seu sentido mais absoluto, lhe pode responder.
Os Orientais pouco inclinados a falar mesmo das coisas mais
simples, guardam profundos segredos de tais experiências,
e precisamente no Japão , há todo um domínio secreto dos Budo,
e numerosos Mestres que refugiados na Montanha, prosseguem
o seu retiro solitário.

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......

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Bushido


Esta é uma tentativa breve de dar conteúdo á palavra
Bushido, que é usada com muita ligeireza e facilidade,
quando se fala de Artes de Budo Japonês. Acredito
que devemos compreender o conceito filosófico, mas
não tentar viver por ele, na época em que vivemos.

Bushido = Via do Guerreiro
Kamakura ( Shogun ) 1192 = Preceitos guerreiros
do Clã Minamoto

As três eras do Bushido

1= Kyuba no Michi =(Via do arco e do cavaleiro)
começa na época da rivalidade
Taira- Minamoto XI - XV +_ 1600.
2= Bushido reformado = Tokugawa (Shogun )
1603 --XVII.
3= Bushido moderno = Restauração do regime
Imperial no início da era Meiji (1868).
Bushido torna-se popular pelo livro
" Bushido a alma do Japão " de Nitobe (1899).

O Bushido trata-se do resultado ( a que se
deu nome muito tarde ) de uma longa herança
de preceitos Shintoistas, Budistas,
Confucionistas, Nacionalistas, Chineses ou
derivados dos severos costumes de um povo
rural, onde se encontravam,a veneração pelos
antepassados, a obediência ao Soberano, a
provação do espírito, a paciência, a resignação
ao inevitável e ao desprezo pela morte.
Apesar de todas as influências, o Bushido é a
expressão do caracter Japonês puro e duro.
Giri=Dever, Correção, Rectidão. Budo Shoshin
Shu = Leituras elementares sobre o Bushido.
Daidoji Yuzan (1639-1730). Buke Sho Hatto
= Tokugawa Ieyasu (Shogun) codificação dos
preceitos Samurai. Koyo Gunkan XVII =
Kosaka Danjo Nabumasa e Obata Kagenori
(1572-1662). Toma como modelo Takeda Shingen,
senhor da ilha de Kaishu (imbatido).Ideia matrix
do Gunkan é de que " toda a batalha iniciada deve
ser ganha". Hagakure 1716 = Escondido sob as
folhas = Yamamoto Tsunetomo (clã Saga )
= Kyushu. HAGAKURE = A morte é tema central =
Chega-se à conclusão de que o Bushido significa
a morte. Quando se é obrigado a escolher entre a
vida e a morte, o que importa é saber escolher
sem hesitação, sem pesar os prós e os contras,
em infinitas coagitações. É preciso saber decidir
simplesmente e ... agir. A ideia segundo a qual é
absurdo morrer, antes de se ter atingido os
objectivos propostos, é despresível e frívola,
características dessas pessoas de Kyuto e Osaka .
Que nós preferiríamos todos a vida à morte é um
facto inegável e por isso tantas pessoas acreditam
que, o que preferimos é o que é justo. De facto,
aquele que não pode viver assistindo à derrota das
suas ambições é um "choramingas”.É desnecessário
pensar que não saberíamos morrer deixando
objectivos por realizar. É falso, não é vergonha
nenhuma. É aí e só aí que passa a verdadeira via do
Bushido. Se o Samurai pratica a introspecção e a
autocrítica a todo o instante,e se por outro lado está
disposto a deixar a vida onde e quando necessário,
ele será perfeito em todas as Artes Marciais e levará
uma vida pura como um diamante.
CONCLUSÃO = Entre duas soluções : a vida ou a
morte, vale sempre mais escolher a morte. Entre un
amor exprimido e um amor secreto, vale mais
escolher calar-se e escolher o amor secreto...

SEPPUKU (hara-kiri ) = Ritual de suicídio pela
abertura do ventre. Contrário à corrente normal do
Shinto que vê a morte como algo de muito
desagradável. Mas as regras do Bushido : desprezar
a morte, total submissão e fidelidade ao Senhor Feudal,
aliado à ideia do Hagakure, fizeram com que o Seppuku
se tornasse um ritual comum entre a classe Samurai.
O Budismo acentuou igualmente o enraízamente deste
costume de imolação pessoal como "sinal de fidelidade".
O Seppuku era efectuado :
1=Para redimir um erro ou falta;
2=Aquando da morte do Senhor para lhe mostrar
fidelidade;
3=Para mostrar o seu desagrado sobre uma qualquer
decisão ou atitude, neste caso o Seppuku era efectuado
em frente à porta do Senhor. Exemplo disto foi em 1945
após a Rendição do Japão às Forcas Aliadas,numerosas
personalidades cometeram Seppuku em frente ao
Palácio Imperial. Este ritual foi muito raramente aprovada
pelos Grandes Mestres. Em 1663 o Bafuku (governo feudal)
proibe o Seppuku e impõe pesadas sansões sobre as
famílias do suicída, retirando-lhe todos os bens e a falta
caíria sobre os filhos, (os homens seriam condenados ao
Seppuku e as mulheres seriam banidas).
Em 1882 um complemento ao Edito do Seppuku proibirá
totalmente a prática deste ritual. Os últimos dois
suicídios famosos foram o do general Nogi e sua esposa
pela ocasião das cerimónias fúnebres do Imperador Meiji
é a mais recente foi a do escritor Mishima Yukio em
protesto pela evolução ou melhor pela direcçãoque tomou
a evolução dos Japoneses.
O Seppuku era uma punição do Imperador, como em
1868 em Kobe, para com soldados comandados por
Samurais que dispararam sobre estrangeiros no
porto de Kobe.
SAMURAI = oficialmente os Samurais apareceram na
Época Heian (794-1192). Quando a família Fujiwara
usurpa as funções de 1º Ministro e reina a insegurança
pelo Japão e até mesmo por Heian Kyo (Kyoto), é então
que os chefes de clãs proprietários de terras e fazendas,
empregam gente para "protecção" assim aparecem os
Samurais ,(palavra que significa "sentir-se ao lado de").
Duas grandes famílias rivais distinguem-se nessa época,
os Taira e os Minamoto.Yoritomo Minamoto destruirá os
Taira na célebre batalha naval de Dan no Ura (1185).

BUSHIDO ANTIGO = Época Kamakura (1192-1333)
Yoritomo Minamoto, reorganiza o Japão e reforça o
" Kyuba no Michi ". A capital é Heian Kyo, e o Zen é
introduzido para reforçar os princípios morais dos
Samurai, é implantada então a obediência estrita aos
Senhores feudais. Invasões Mongóis = 1274 e 1281.
Mongóis, Coreanos e Chineses tentam invadir a ilha
Sul do Japão Kyushu, mas partem sùbitamente após
perderem cerca de 13.500 homens numa tempestade
marítima. Os Japoneses constróiem então defesas na
costa marítima, que são muros de 2.10m de altura por
2.80m de espessura. Em 1281 novamente em Kyushu
duas frotas imensas aparecem, uma de 50.000 e outra
de 100.000 homens. A batalha durou quarenta e nove
dias.Os Mongóis teriam novamente vencido se não
fosse um Tufão (cíclone) que em dois dias destruiu as
armadas.O Tufão foi chamado "KamiKaze" ou seja
vento dívino,(Deus Vento).O Japão manteve uma
vigilância apertada até 1320. Após a morte de Kubalai
em 1294 os Mongóis desistiram da ideia de conquistar
o Japão.
Época Muromachi = (1336-1574) período de anarquia
contestado pelo clã Ashikaga . Durante cinquenta anos
até 1392 o Japão terá dois Imperadores : um a Norte
imposto pelos Shogun e outro a Sul considerado como
o verdadeiro. Em 1392 Kyoto foi destruída devido às
guerras entre clãs e famílias. 1574 vê o aparecimento
dos três ditadores : Oda Nobunaga, Hideyoshi e
Tokugawa Ieyasu . Todos descendentes de origem
modesta, quando até então todos os personagens de
vulto eram de origem nobre. Foi sobretudo
Hideyoshi que fixou os rurais ao campo e impôs leis
durissímas.

BUSHIDO REFORMADO =Amálgama de Conficiunismo
e de Zen, começou com o Shogunato de Tokugawa em
1603. Este governo dura 264 anos e trata-se de um
governo Samurai. É a Época Edo (1603-1868) período
de paz em que o Samurai tem o direito de vida ou de
morte sobre qualquer pessoa de classe inferior. Devido
à paz muitos Samurai tornam-se agricultores, artesãos
ou Ronin ( Samurai sem Senhor ) ou " Samurai sem
emprego" e muitos tornaram-se funcionários militares.
O Bushido Antigo já não correspondia aos novos
tempos. O famoso monge Zen Takuan ( 1573-1645 )
explica o Bushido sob o ponto de vista Zen; diversos
autores escrevem versões Confucionistas.
A época Tokugawa vê iniciar-se a repressão sobre
os estrangeiros : Ingleses, Franceses Americanos,
Portugueses, Espanhóis e Russos que tentavam
estabelecer relações comerciais com o Japão e
confrontam-se com uma oposição absoluta. 1854
o Comodore Perry, à frente de uma forte armada,
imporá uma pesada derrota, e vai levar o Japão a
assinar um tratado que incluirá a maior parte das
outras nações Ocidentais e termina assim o longo
periodo de isolamento. Assim de repente o Japão
toma consciência do seu atraso (200 anos) em relação
aos paises Ocidentais. 1868 ( XV Shogun ) o Shogunato
devolve o poder politico ao Imperador. Entre 1803 e 1867
existiriam entre 450.000 e 500.000 Samurai.

BUSHIDO MODERNO = 1868 marca o fim do
Shogunato, em 1870 o Imperador Meiji abole
formalmente o feudalismo; 1872 os Samurai são
obrigados a deixar o seu penteado tradicional;
1875 o porte do sabre é proibido assim como o
seu ensino. Saigo Takamori revolta-se com
42.000 guerreiros mas foi derrotado por 60.000
soldados do governo em 1877. O Bushido
continua a ser o traço fundamental dos grandes
negócios, a competição económica era conduzida
por um pequeno número de homens que fazem
passar os interesses do "Grande Japão " acima dos
interesses particulares.
O Bushido é a lei não escrita do Japão, a mentalidade
Japonesa continua fortemente impregnada, assim
torna-se díficil a mudança. A sociedade é fundada
sobre a ideia de vassalagem e interdependência.
A unidade da família continua muito forte. A difusão
do Budismo, do Confucionismo, é o fundo mesmo do
Espirito Shinto e reforça este estado de coisas.
O " Grande Japão " ( Dai Nippon), levou ao que
conhecemos como : militarismo Japonês.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Carnaval 2008


" Quem não chega ao Dojo a horas... sofre" ...

Como é Carnaval ... pode-se brincar ;~) ... sem ter que desembainhar... *»)%$&¨º!!!
.

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domingo, 3 de fevereiro de 2008

Dojo de Iaido

Dojo de Iaido
O Dojo de Iaido de Faro foi inaugurado, em Setembro de
2001, com o objectivo de divulgar o Iaido como Arte de
auto-aperfeiçoamente dos seus praticantes. A prática
destina-se exclusivamente a adultos e efectua-se
em regime livre, ou seja sem horas determinadas e sem
limite de horas de prática. O Dojo está situado na
Prct. Dr. Aleixo da Cunha, nº 8 em Faro e tem os
seguintes contactos :
iaidojo@gmail.com e TM : 937303071

No Dojo pratica-se Kosheta Ryu Batto Do cujos katas
se baseiam nos seguintes estilos de Iaido :
Araki Ryu Iaido, Seitei Iaido, Muso Shinden Ryu,
Eishin Ryu, Katori Shinto Ryu, Ogawa Ryu,Yagui
Seigo Ryu Shinkage, Tamiya Ryu, Jigen Ryu e
Toyama Ryu assim como Kenjutsu para os
praticantes mais avançados.
O Dojo pode ser utilizado por praticantes de
passagem, como local de treino, sem qualquer
interferência técnica, da parte dos responsáveis
do Dojo ou pelos seus praticantes.
Exige-se no entanto um comportamente
"próprio e adequado".
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