Equilíbrio

Em busca do equilíbrio...entre culturas,
filosofias e tradições, tão vincadamente
distintas... é necessário, todo o cuidado,
atenção e sensatez, para que "o conhecimento"
não nos transporte, para tempos passados
e sobretudo que a nossa mente não nos faça
querer viver no passado, que como a palavra
indica... "passou", não volta mais, é agora
que vivemos e como tal, teremos que olhar
para o Mundo e para Vida de uma forma
lúcida e equilibrada.
Peço aos praticantes de Budo Japonês, que

por ventura, leiam estas breves notas, que
as tomem apenas como ponto de referência
e não como "doutrina" de vida...

Obrigado.

Sensei Gomes da Costa


quarta-feira, 16 de abril de 2008

Uchi Deshi

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.........Uchi Deshi
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Primeiro gostaria de salientar algumas diferenças óbvias dos
diversos significados da palavra Uchi Deshi,(que hoje é usada
com tanta ligeireza, que quase toca a leviandade)...
Uchi Deshi "estudante interno" e verdadeiro "aprendiz" no
sentido tradicional da palavra, de instrutor profissional,
esse Uchi Deshi com o treino formal e tradicional, morreu
realmente com os O´Sensei do passado.
O verdadeiro Uchi Deshi tinha um treino extremamente
duro, normalmente de 35 horas por semana mínimo, não
só fisíco como mental e psicológico, tinha que ser o primeiro
a começar e o último a terminar (e a comer), tinha que tratar
diàriamente do Dojo, limpar o chão, os vestiários, limpar o
pó a tudo, limpar o jardim, varrer a entrada do Dojo e o
passeio da rua em frente da casa, tinha que servir o Sensei e
os Senpai, não podia falar senão fosse interpelado, em viagem
tinha que carregar com a bagagem, verificar os WC antes do
Sensei entrar, tinha que verificar o quarto do hotel antes do
Sensei se acomodar, tinha que impedir que alguém se
atravessasse pela frente do Sensei, tinha que dar massagens
quando o Sensei tinha dores de costas, ombros, etc. Tinha
igualmente que coordenar os cursos, assistir o Sensei e
ajudar os participantes, era no entanto, companheiro e
confidente do Sensei. Esse era o treino do Uchi Deshi que
além de ser "aluno interno", era mais "discípulo interno".
Diz-se que : "uma vez Uchi Deshi... sempre Uchi Deshi" pelo
facto de poucos atingirem o nível de Sensei e que uma parte
desse treino fica para sempre gravado na personalidade e
carácter do "aluno interno".
Hoje, a tradição do Uchi Deshi continua , mas é agora muito
mais Soto Deshi (aluno externo) com algumas tarefas no
Dojo, a nível de burocracia, atender visitantes, coordenar
estágios, enviar cartas, organizar encontros, enfim ajudar
nas tarefas extra, não vive no Dojo e normalmente não tem
tarefas de limpeza e manutenção do Dojo, esta é a norma de
hoje do Uchi Deshi no Japão e pelo Mundo, por último há o
"título" de Uchi Deshi, que é atribuido hoje em dia por alguns
Mestres, com o respectivo Diploma, em treinos de fim de
semana ou ao final de um Gashuku... é pois necessário não
confundir os diversos significados, níveis de dificuldade, a
profundidade e seriedade do ensino tradicional baseado no
esforço, abnegação e entrega total do Aluno, Mestre e Dojo,
que dão conteúdo á função tradicional do Uchi Deshi de
épocas passadas.
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Agradeço a Nambu Sensei a oportunidade que me deu em
Paris de 1967~1970, de ser o seu Uchi Deshi e por todo o
ensinamento que me transmitiu, de forma simples e sem
"exotismos" ou "maestralidades".
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Ainda mais agradeço ao meu falecido Mestre e amigo
Hayabuchi O´Sensei, pela oportunidade rara, na época,
(1971~1973) de me ter aceitado como Uchi Deshi, numa
altura em que um Ocidental, nem era aceite como aluno
nos Dojos de Iaido, fora de Tokyo, e como "aluno interno"
era totalmente impensável e para muitos totalmente
"inaceitável"...


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2 comentários:

sara disse...

deve ter sido impressionante a sua experiência como uchi deshi! penso que o Mestre é privilegiado por ter visto e experienciado tanta coisa que continua a ser vedada aos ocidentais. o seu "dom" para as artes marciais levou-o a quebrar barreiras e a conseguir metas incríveis. orgulhosos estão os seus alunos por poder ouvi-lo contar o que viu e experimentou!

falamos dos uchi deshi, das tarefas que desempenham, das responsabilidades que lhes caem sobre os ombros, do carácter cordato e reverencial que têm que possuir...mas podemos pôr a questão ao contrário. para mim, não há responsabilidade maior que ser O MESTRE. tomar um jovem aluno, formá-lo na arte e na personalidade é uma tarefa "perigosa", porque se pode criar um "monstrinho" ou então, uma pessoa com o grau de humanidade suficiente para ir para o mundo com uma noção de respeito, honestidade e cortesia para com os outros.

vejo tantas vezes adolescentes que praticam karate com ideias absurdas de invencibilidade - "os karatecas não sentem dor", os karatecas conseguem bater em toda a gente", " os karatecas conseguem demolir um prédio à cabeçada", ... - e nota-se perfeitamente que os seus instrutores não os contrariam (até incentivam) nestas "ilusões de juventude". o que acontece é que usam o karate nas escolas que frequentam para amedrontar os colegas...e como a nossa sociedade está cheia de rótulos, daí se depreende que o "pessoal do karate" é violento. é muito triste estar num torneio federativo e ver instrutores tentarem agredir árbitros porque o resultado não correu a seu favor. esses instrutores são os MESTRES dos seus alunos, são a imagem da arte, o exemplo primeiro de comportamento que o praticante/estudante tem. se o MESTRE se mostra arrogante, agressivo, sem cortesia, sem honestidade...como se hão-de mostrar os alunos?

os mestres fazem os alunos...mas mais ainda...os alunos espelham o seu mestre.

já me alonguei...ups...

reverências, reverências e mais reverências!

Ricardo Borges disse...

ola sensei gomes da costa, é um prazer revelo, relembrar os seus ensinos e momentos passados na sua companhia, para sempre e sempre esteve presente na minha vida como pessoa mais estimada, foi o meu unico e verdadeiro sensei em anos que pratiquei a arte do karate, sentindo grande perda pessoal no seu afastamento como meu sensei, agradeço esta oportunidade para lhe dar os meus cumprimentos, saudações e agradecer-lhe mais uma vez por tudo o que me ensinou. OBRIGADO

Ricardo Manuel da Silva Borges
ricardo.borges.7@hotmail.com